A matéria a seguir foi publicada no Estadão On Line . O autor, Felipe Mortara, fez o Caminho de Santiago no início deste ano e o texto foi escrito durante o percurso .
' Você quer mesmo fazer o Caminho de Santiago ? '
Felipe Mortara
26 setembro 2015 | 05:34
“Você quer mesmo fazer o Caminho de Santiago?”. Ao longo dos quatro primeiros dias é ele, o Caminho em pessoa, que lhe faz essa pergunta repetidamente. Aponta o dedo na sua cara no alto dos Pireneus. E esculhamba seus joelhos na descida. Grita por meio de um sol feroz no Morro do Perdão. E lhe garante uma dor muscular onipresente que só é aplacada por uma estranha sensação de “eu fiz”. Pelo menos até aqui eu cheguei.
Até agora percorremos 88 quilômetros entre Saint Jean Pied de Port, na França, e Puente La Reina, na Espanha. Numa média de 22 quilômetros diários, sendo que nada foi pior do que o primeiro dia. Mas há um cansaço acumulado, que insiste em aparecer junto com um festival de pequenas dores. As minhas, no tendão de aquiles, patela esquerda e músculos internos das duas coxas. Filipe Araújo, fotógrafo e videomaker que me acompanha, encontrou seu ritmo e consegue dosar melhor suas múltiplas paradas para filmar e fotografar com os cuidados com seu tendão de aquiles operado há oito meses.
Na terceira noite nos concedemos um festival de ibuprofeno e pomadas, que, de fato, quase anularam as dores do nosso quarto dia… Mas, como nos disse Natália Guerreiro, do albergue Estrella Guia e nossa anfitriã na quarta noite, em Puente La Reina, o Caminho te revela suas dores e mascará-las talvez seja negar o próprio sentido de descoberta do Caminho. Enfim, longe de querer achar sentido, resolvi apenas testar uma noite sem ibuprofeno e pomadas, apenas me tratando com alongamento. Mais adiante conto se e o quê as tais dores ensinaram.
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